quarta-feira, 31 de julho de 2013

2.6 - Por mais que a gente cresça, há sempre alguma coisa que não consegue entender...



“Hey mãe, alguma coisa ficou pra trás. Antigamente eu sabia exatamente o que fazer... Agora, lá fora, o mundo todo é uma ilha, a milhas e milhas de qualquer lugar... Hey mãe, eu já não esquento a cabeça. Durante muito tempo isso era só o que eu podia fazer... Por isso, mãe, só me acorda quando o sol tiver se posto. Eu não quero ver meu rosto antes de anoitecer...”

                                                                                  (Engenheiros do Hawaí)

Talvez a lenda de que menstruar é um marco emocional e ponte para um amadurecimento da mocinha seja real. E foi aos 14 anos que passei por essa tenebrosa experiência. Tarde demais, mas no meu ponto de vista ainda podia ter esperado, ou nunca ter vindo.
Aconteceu num domingo, dia dos pais, casa da minha tia lotada em comemoração. Para variar, o meu pai não estava presente. Eu nem ligava mais. Conforme vai passando o tempo, a gente se acostuma com tudo, ou quase tudo. Acho que aconteceu nesse dia como um carma. Mais uma forma de ter que lembrar dele em um momento importante da minha vida.
Senti que minha vagina estava molhada e sem motivo aparente. Quem sabe era um daqueles insistentes corrimentos que assombravam a minha vida. Ainda sem maiores preocupações, fui ao banheiro me limpar.
Na minha calcinha havia umas manchas vermelhas, que se estenderam até o papel higiênico. Era ela que enfim havia chegado. E como me trouxe neuroses por ter demorado tanto! Quantas vezes pensei em fingir que havia descido, só para não me sentir diferente das minhas amigas. Quantas vezes pensei em usar Mertiolate para manipular e provar com a calcinha manchada que estava dizendo a verdade.
Ainda bem que tais pensamentos não se tornaram reais. Ainda bem que não passava de uma vergonha interna e nunca comentada. Como o desconforto em ainda não ter pêlos pubianos diante da exaltação das meninas em se trocar na frente das outras e exibir seus pentelhos fartos. Enquanto eu ainda parecia uma criança, com a vagina desnuda e rosada. Evitava ao máximo ter que passar pelo vexame de admitir que apesar de toda aparência física, meu corpo ainda não tinha se transformado.
Mas agora estava diante de algo que desejava e não sabia o que fazer. É óbvio que não tinha um absorvente em mãos e por isso precisaria pedir ajuda a alguém. Mas como sairia daquele banheiro, naquela casa repleta de gente, sem fazer alarde e encontrar a minha mãe antes que a minha calça manchasse? Sim, hoje em dia é normal esbravejar que se está menstruada e fazer conferências sobre as doloridas cólicas e pedir sem hesitação um absorvente para quem estiver por perto.
Mas era a primeira vez e estava aterrorizada.
Confesso não lembrar perfeitamente dos acontecimentos, talvez porque os sentimentos fossem mais fortes, mas sei que encontrei a minha mãe e ela definitivamente piorou a situação. Não sei o que se passou pela sua cabeça, mas não precisava ter exposto a minha vida assim. Faltou utilizar um megafone para informar que enfim o seu bebê havia se tornado uma moça. E além de ter que aprender a andar com um tijolo no meio das pernas, ainda tive que tentar aparentar naturalidade diante daquela catástrofe e agüentar piadinhas sem graça pelo resto do dia.
Hoje, eu e a menstruação já temos uma relação amigável, apesar de não ser uma visita bem vinda e que geralmente vem sem avisar e faz questão de não ser regulada. Porém, não se demora mais que quatro dias e já aprendi a conviver com as dores que me causa. Além do quê, tem meses que não vem e não deixa de ser bem agradável. Inclusive já foi cogitada a hipótese de ficar sem ela por longos meses, mas se a natureza quis que fosse assim, deixa que venha.
Eu agüento!