“Sonhava
acordada, dormia agoniada, passava o tempo todo a lembrar. Fez uma coisa
feia..., por causa de algo que quis tirar de alguém que não lhe fazia bem, que
não lhe dava amor e sim dor. Sonhava acordada, dormia atormentada... Quando
seria o dia e se demoraria, que em sua companhia iria estar alguém que lhe
fizesse bem, que lhe mostrasse as cores, as flores, o céu. E o tempo foi
passando e ela acreditando que seu sonho iria virar. Mas não tinha certeza,
pois ela estava presa, por causa de algo que quis tirar de alguém que não lhe
fazia bem, que não lhe dava amor e sim dor.”
(Cachorro Grande)
Voltei
a me envolver com o Fábio. Desde a primeira vez em que ficamos, eu havia
crescido, em coxas, seios e bumbum. Não poderia ser considerada uma mulher, mas
lembre-se que estava em minha melhor fase. Era uma adolescente bonita e
atraente. Ele me olhava transparecendo (como todo bom e dispensável macho) fome e
tesão (nada mais que isso).
Fábio trabalhava na esquina da escola onde eu fazia o
colegial. Numa tarde qualquer, voltava do dentista quando ele acabou me
vendo passar e me chamou. Essa era a minha intenção ao escolher o
caminho, mas voltei tremendo de vergonha. Sempre travava quando nos
aproximávamos. Nunca sabia o que dizer ou fazer, e no final sempre era
estúpida, apesar dos ensaios.
No meio de uma conversa sem nexo e sem muitas recordações
da minha parte, houve um selinho. Não foi bem um selinho estralado. Diria que
foi uma provocação sutil e eficiente ao levemente encostar seus lábios molhados
na lateral dos meus, ainda anestesiados, e falar algo que não me lembro. Se me
concentrar, até hoje posso sentir a vibração da sua voz e a umidade fazendo
cócegas na minha boca e interagindo com meus outros pequenos lábios.
E termina aí esse momento, mas tive assunto para a aula
toda no dia seguinte. Nessa idade, chega a ser cômica a importância dos
detalhes. Cada situação é contada com uma veracidade que beira os sentidos.
Poderíamos nos tornar autoras ou atrizes de novelas, pela intimidade com que
relatávamos as histórias dando ênfase a partes emocionantes, praticamente
encenando a realidade e maquiando pra ficar mais interessante.
Num outro dia, outro selinho, com um pequeno encostar de
línguas, um sorriso, mais umidade e gosto de anestesia. Assunto para semana
toda. Assim, durante o bendito tratamento dentário, via Fábio sempre e na minha mentalidade juvenil, era
consideravelmente um relacionamento amoroso que estava acontecendo entre a
gente. Às vezes, nossas bocas se encostavam. Às vezes só conversávamos. Mas
todas às vezes me sentia muito feliz de ir ao dentista e na volta obter
migalhas desse meu pequeno amor, que me deixava cheia de histórias para relatar
nas aulas entediantes do dia seguinte.
Até que, para ser diferente e discreto (ou na expectativa
de uns amassos “calientes”), um amigo dele que morava nos arredores nos
emprestou a chave de sua casa. Não relutei em aceitar a proposta e
acompanhá-lo. Nem perdi meu tempo fazendo cu-doce, que significa "fingir
que é difícil". Prefiro aproveitar cada minuto, sem falsos recatos. Nunca
tive muita paciência para joguinhos de sedução, principalmente quando fazia o
papel de amante, o que era o caso. (Ah eu não disse ainda né? Pois é, ele tinha
uma namorada).
No caminho, me sentia eufórica por saber que lá, teria
além do pouco que tinha eventualmente do seu tempo e dos seus carinhos. Quem
sabe algo mais excitante que selinhos amedrontados?
Ao chegar, chave no cadeado, aquela olhada de praxe para
verificar se havia alguém conhecido nos observando e o barulho do portão se
fechando, nos protegendo de eventuais curiosos. Seguros, já começamos a nos
agarrar, sem conseguir esperar chegar num local confortável.
Eu já não me lembrava do calor que seus beijos me proporcionavam
e aquele encostar de bocas deixou nossos hormônios saltitando. Expectativas
estavam sendo alcançadas (pelo menos as minhas que se contentavam bem com
alguns beijinhos).
Nos pegamos até o sofá da sala e os amassos terminaram
com a seguinte cena: eu, sentada em seu colo, com as pernas entrelaçadas em seu
quadril; ele, subindo a minha blusa e beijando minha barriga; e eu, para
acalmar os ânimos, pedindo água. Sabia como aquele tipo de situação terminava e
apesar de gostar muito, não era o momento. Literalmente joguei um balde de água
fria, que só voltou a esquentar quando me jogou no colchão que havia no quarto.
Constatei como era bom sentir o peso de um
corpo em cima do meu, mas com a desculpa de estar atrasada para um compromisso,
não deixei que aquele instante ultrapassasse os beijos, mãos deslizando
inquietamente e calor no meio das pernas. Me levantei e fui embora com um Fábio
implorando algo que não dei, pelo menos não aquele dia. (Não me refiro ao meu
hímen com essa afirmação).
Nenhum comentário:
Postar um comentário