quarta-feira, 9 de outubro de 2013

3.1 – Passava o tempo á imaginar

“Sonhava acordada, dormia agoniada, passava o tempo todo a lembrar. Fez uma coisa feia..., por causa de algo que quis tirar de alguém que não lhe fazia bem, que não lhe dava amor e sim dor. Sonhava acordada, dormia atormentada... Quando seria o dia e se demoraria, que em sua companhia iria estar alguém que lhe fizesse bem, que lhe mostrasse as cores, as flores, o céu. E o tempo foi passando e ela acreditando que seu sonho iria virar. Mas não tinha certeza, pois ela estava presa, por causa de algo que quis tirar de alguém que não lhe fazia bem, que não lhe dava amor e sim dor.”
                                                                                          (Cachorro Grande)


Voltei a me envolver com o Fábio. Desde a primeira vez em que ficamos, eu havia crescido, em coxas, seios e bumbum. Não poderia ser considerada uma mulher, mas lembre-se que estava em minha melhor fase. Era uma adolescente bonita e atraente. Ele me olhava transparecendo (como todo bom e dispensável macho) fome e tesão (nada mais que isso).
Fábio trabalhava na esquina da escola onde eu fazia o colegial. Numa tarde qualquer, voltava do dentista quando ele acabou me vendo passar e me chamou. Essa era a minha intenção ao escolher o caminho, mas voltei tremendo de vergonha. Sempre travava quando nos aproximávamos. Nunca sabia o que dizer ou fazer, e no final sempre era estúpida, apesar dos ensaios.
No meio de uma conversa sem nexo e sem muitas recordações da minha parte, houve um selinho. Não foi bem um selinho estralado. Diria que foi uma provocação sutil e eficiente ao levemente encostar seus lábios molhados na lateral dos meus, ainda anestesiados, e falar algo que não me lembro. Se me concentrar, até hoje posso sentir a vibração da sua voz e a umidade fazendo cócegas na minha boca e interagindo com meus outros pequenos lábios.
E termina aí esse momento, mas tive assunto para a aula toda no dia seguinte. Nessa idade, chega a ser cômica a importância dos detalhes. Cada situação é contada com uma veracidade que beira os sentidos. Poderíamos nos tornar autoras ou atrizes de novelas, pela intimidade com que relatávamos as histórias dando ênfase a partes emocionantes, praticamente encenando a realidade e maquiando pra ficar mais interessante.
Num outro dia, outro selinho, com um pequeno encostar de línguas, um sorriso, mais umidade e gosto de anestesia. Assunto para semana toda. Assim, durante o bendito tratamento dentário, via Fábio sempre e na minha mentalidade juvenil, era consideravelmente um relacionamento amoroso que estava acontecendo entre a gente. Às vezes, nossas bocas se encostavam. Às vezes só conversávamos. Mas todas às vezes me sentia muito feliz de ir ao dentista e na volta obter migalhas desse meu pequeno amor, que me deixava cheia de histórias para relatar nas aulas entediantes do dia seguinte.
Até que, para ser diferente e discreto (ou na expectativa de uns amassos “calientes”), um amigo dele que morava nos arredores nos emprestou a chave de sua casa. Não relutei em aceitar a proposta e acompanhá-lo. Nem perdi meu tempo fazendo cu-doce, que significa "fingir que é difícil". Prefiro aproveitar cada minuto, sem falsos recatos. Nunca tive muita paciência para joguinhos de sedução, principalmente quando fazia o papel de amante, o que era o caso. (Ah eu não disse ainda né? Pois é, ele tinha uma namorada).
No caminho, me sentia eufórica por saber que lá, teria além do pouco que tinha eventualmente do seu tempo e dos seus carinhos. Quem sabe algo mais excitante que selinhos amedrontados?
Ao chegar, chave no cadeado, aquela olhada de praxe para verificar se havia alguém conhecido nos observando e o barulho do portão se fechando, nos protegendo de eventuais curiosos. Seguros, já começamos a nos agarrar, sem conseguir esperar chegar num local confortável.
Eu já não me lembrava do calor que seus beijos me proporcionavam e aquele encostar de bocas deixou nossos hormônios saltitando. Expectativas estavam sendo alcançadas (pelo menos as minhas que se contentavam bem com alguns beijinhos).
Nos pegamos até o sofá da sala e os amassos terminaram com a seguinte cena: eu, sentada em seu colo, com as pernas entrelaçadas em seu quadril; ele, subindo a minha blusa e beijando minha barriga; e eu, para acalmar os ânimos, pedindo água. Sabia como aquele tipo de situação terminava e apesar de gostar muito, não era o momento. Literalmente joguei um balde de água fria, que só voltou a esquentar quando me jogou no colchão que havia no quarto.
Constatei como era bom sentir o peso de um corpo em cima do meu, mas com a desculpa de estar atrasada para um compromisso, não deixei que aquele instante ultrapassasse os beijos, mãos deslizando inquietamente e calor no meio das pernas. Me levantei e fui embora com um Fábio implorando algo que não dei, pelo menos não aquele dia. (Não me refiro ao meu hímen com essa afirmação).

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