“Seu rosto na TV parece um milagre... Eu mudo o canal, eu
viro a página, mas você me persegue por todos os lugares... Eu vejo seu poster
na folha central. Beijo sua boca, te falo bobagens... Fixação! Seus olhos no
retrato. Minha assombração. Fantasmas no meu quarto. I want to be alone...
Preciso de uma chance de tocar em você. Captar a vibração que sinto em sua
imagem... Fecho os olhos pra te ver, você nem percebe. Penso em provas de amor,
ensaio um show passional...”
(Leoni)
Bruno é irmão do Eduardo, mas apesar de nessa época ser
muito amiga do Du, eu e o Bruno não tínhamos nenhuma
intimidade. Até o dia que ele reparou em mim e resolveu me conquistar. Claro
que sem maiores dificuldades. Tinha lábia e um charme típico de leonino. Além
de experiência com menininhas indefesas e carentes. Eu, 14 anos. Bruno, 22.
Logo na primeira vez que conversamos me senti fisgada
pelo seu papo interessante, suas aventuras, romances proibidos e pelo constante
bom-humor. Durante umas duas horas fiquei ali, parada, admirando a cena de um homem lindo, encantado com as próprias palavras e com a própria vida, que relembrava momentos sem pudores, com fogo no olhar e um sorriso lindo.
Tenho queda por bocas e sorrisos.
Antes de ir embora, combinamos de sair, apesar de eu estar ainda com um
pé atrás. Ele também namorava, há mais de quatro anos. Mais uma vez estava
entrando numa barca furada sem me importar com o futuro e provável afogamento.
Filial, essa era a minha sina.
Um dia depois o esperei na praça para que ninguém nos visse juntos. Já
estava me acostumando com essa vida bandida e aprendendo como me camuflar.
Foi excitante sentar na garupa da sua moto e sentir o
vento batendo no meu rosto com a velocidade. E como corria! Bruno nunca teve
medo de nada e aproveitava cada segundo como se fosse o último. O perigo
constante alimentava sua alma. Era necessário para manter acesa a chama que
brilhava nos seus olhos cor de mel e que me hipnotizavam.
Como um PHD em
infidelidade, me levou até o mirante. Lugar montanhoso, cheio de pedras e
banquinhos para os namorados (ou amantes), de onde se pode apreciar a lua e as estrelas
perfeitamente. (Quando não se está de olhos fechados). Lugar frio,
principalmente em meados de julho, onde só se deve ir bem agasalhado ou com
alguém para te esquentar. Eu não estava bem agasalhada, não tinha um namorado (ainda nem era amante), mas
a noite estava perfeita.
Ele parou a moto e fui me sentar em um dos bancos que
ficava de frente para lua, que estava cheia, imponente. Fiquei apreciando-a enquanto Bruno estacionava e
vinha se sentar ao meu lado.
- Que linda a lua hoje.
- Ela
ficou ainda mais bonita porque você tá aqui do meu lado Amanda.
Me derreti. Esperava qualquer “cafajestagem” antes de
grudar nos meus lábios, mas não. A partir daí ele já tinha sido especial e diferente de todos os outros. Deixou as coisas acontecerem naturalmente. Pegou naquele pontinho
sensível-brega que toda mulher tem e a maioria dos homens faz questão de
ignorar.
Não demorou a estarmos nos beijando. E foi um beijo
cinematográfico, como ele. Aos 14 anos ainda existem fantasias de romances
contos de fada e Bruno participou ativamente das minhas. Olhou-me nos olhos,
afagou meus cabelos, me abraçou com delicadeza e me fez sorrir com suas
constantes gracinhas. Nesse mesmo dia, ao voltar para casa, adquiriu a mania de
alisar minha perna enquanto andávamos de moto.
Eu o abraçava, me deitava em suas costas, fechava os
olhos e só sentia. Aguçava cada pedacinho sentimental de mim para absorver tudo
a minha volta. O cheiro do perfume, o contato da pele, o vento zunindo, o ronco
do motor acelerando e o preenchimento que aquela relação me dava.
Primeiro dia: minha cama parecia uma nuvem quando me
deitei nela e ele me fez sonhar.
Claro, voltamos a nos ver. Estava sendo tratada como uma
princesa, por mais cafona que a expressão pareça. Era como se só existíssemos
nós dois e nosso momento. O Bruno foi o melhor homem da minha vida, porque foi
o único que soube cuidar de mim como uma mulher merece.
Nos chamávamos por apelidos carinhosos e ele sempre
inventava um nome engraçado e marcante. Algo único, que só ele me chamaria. Nos
tocávamos como adolescentes sem malícia e ousadia. Ele nunca avançou o sinal,
nem me tratou como vagabunda. Sempre me respeitou como se fosse sua namorada
oficial e ele dizia que eu era, de uma forma ou de outra.
Tenho tantas coisas boas para lembrar que as ruins
ficaram esquecidas.
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