segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

2.3 - E, como um raio, eu encubro, eu disfarço...



“Toda vez que te olho, crio um romance. Te persigo, mudo todos instantes. Falo pouco, pois não sou de dar indiretas. Me arrependo do que digo em frases incertas. Se eu tento ser direto, o medo me ataca. Sem poder nada fazer sei que tento me vencer, acabar com a mudez. Quando eu chego perto, tudo esqueço e não tenho vez. Me consolo, foi errado o momento, talvez, mas na verdade, nada esconde essa minha timidez. Eu carrego comigo a grande agonia de pensar em você, toda hora do dia. Talvez escreva um poema no qual grite o seu nome. Nem sei se vale a pena, talvez só telefone. Eu  ensaio, mas nada sai. O seu rosto me distrai. Eu respiro bem fundo, hoje eu digo pro mundo: Mudei rosto e imagem, mas você me sorriu. Lá se foi minha coragem, você me inibiu.”
                                                                                                         (Biquíni Cavadão)

Beijar a Paty obviamente não facilitou o primeiro beijo em uma boca masculina, do Cris. 
nervosismo foi o mesmo, senão maior. E foi um fiasco! Procuramos por minutos intermináveisuma rua menos tumultuada, onde passasse menos gente e menos carro, afinal de contas, hojeem dia pode ser normal ver por aí meninas se atracando com meninos aos 11 anos de idade. Na minha época, isso ainda era um tabu, portanto, tinha que ser escondido.
Acabamos encontrando uma esquina onde tinha uma casa de muro alto e algumas árvores 
que nos camuflariam. Eu juro que precisava era de um buraco para me enfiar e ficar por ali atéa tremedeira e aquela vermelhidão no rosto irem embora. Mas estava sendo pressionada 
pelos amigos ao redor para seguir adiante e, finalmente, deixar de ser boca virgem (pelo 
menos para eles).
Fechei os olhos antes de ver os olhos dele. Nossas línguas mal se tocaram. Me desvencilhei 
emocionalmente abalada, ridícula. Havia saliva demais, um excesso que não conseguia 
controlar, apesar de já ter certa prática com babas excedentes. Talvez meu sistema nervoso 
tenha atrapalhado nesse sentido e ali, descobri que com os meninos seria bem mais 
complicado tomar as rédeas da situação.
O beijo deve ter durado no máximo três segundos, mas foi uma eternidade considerando o 
desespero e a timidez. Fim, olhos para baixo e os pés quase correndo em direção a minha 
casa, sem ao menos me despedir. Com ele, era de fato inocente. Não trocávamos uma 
palavra sequer. Nem monossílabos, como oi ou tchau. Os encontros eram sempre 
programados por amigos.
Nos aproximávamos, fechávamos os olhos e seja o que Deus quiser. O pescoço também se 
virava, automaticamente, para direita. Meus braços enlaçavam seu pescoço. Suas mãos 
travavam na minha cintura. Boca na boca, alguns poucos movimentos para muitas pulsações. Antes de abrir os olhos, eu abaixava levemente à cabeça, virava de costas e ia embora. As 
pernas trêmulas e uma amiga do lado para compartilhar, que geralmente tinha acabado de 
fazer à mesma coisa.
Na minha mente, nem era cogitada a hipótese de fazer o que era feito com a Patrícia. 
Os meninos falam muito e mentem e deixam as meninas com má fama nessa sociedade falsaem que vivemos. E por conta dessa mesma sociedade, foi instituído moralmente que o 
Cristian foi o “desvirginizador” dos meus lábios.

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