quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Capítulo 1 – Pai!




Pai! Pode ser que daqui a algum tempo, haja tempo pra gente ser mais, muito mais que dois grandes amigos. Pai e filho talvez... Pai! Pode ser que daí você sinta qualquer coisa entre esses longos anos em busca de paz... Pai! Pode crer, eu tô bem, eu vou indo. Tô tentando, vivendo e pedindo, com loucura pra você renascer... Pai! Eu não faço questão de ser tudo, só não quero e não vou ficar mudo pra falar de amor pra você... Pai! Senta aqui que o jantar tá na mesa, fala um pouco tua voz tá tão presa. Nos ensine esse jogo da vida, onde a vida só paga pra ver... Pai! Me perdoa essa insegurança, é que eu não sou mais aquela criança, que um dia morrendo de medo, nos teus braços você fez segredo, nos teus passos você foi mais eu... Pai! Eu cresci e não houve outro jeito, quero só recostar no teu peito, pra pedir pra você ir lá em casa e brincar de vovô com meu filho no tapete da sala de estar. Pai! Você foi meu herói meu bandido. Você faz parte desse caminho que hoje eu sigo em paz...
                                                                                                                  (Fábio Jr)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012


Sozinha nesse quarto. Minha voz ricocheteando nas paredes morbidamente brancas e nos travesseiros de fronha cor vermelho intenso, estampado com flores nada discretas em tom de violeta. Um leve cheiro de suor do meu pai respingado a noite, mesclado com a fragrância do amaciante de roupas, me remete as férias passadas no apartamento de vovó.
Nunca me senti à vontade por lá, por mais que seus esforços fossem constantes.
Típica estirpe classe média (mediano, medíocre), com almoços em restaurantes e as críticas de meu avô porque eu não sabia comer como manda a etiqueta.
- Pega o guardanapo para limpar a boca menina.
- O garfo é na mão direita. (Ou será que é na esquerda?)
- Não Amanda, eu já disse para não pegar com a mão. Isso é nojento.
Lá me sentia como se estivesse dentro de uma roupa apertada, prendendo minha respiração e inibindo meus gestos excessivos.
Tudo muito limpo, bem passado, organizado. Um grande e verdadeiro pé no saco de qualquer criança. O único momento onde podia relaxar era a mamada. Quando tinha oito anos, ainda existia por lá uma mamadeira guardada para mim, que vó Branca preparava com leite morno e achocolatado. De vez em quando me dava à orelha para eu alisar. Era mania para dormir. Mamar e alisar.
Na falta de calor humano, alisava a minha mesmo, a da esquerda. A mão direita estava ocupada empunhando meu símbolo máximo de puerilidade. De qualquer maneira era preciso uma orelha, senão o sono não vinha.
Apesar do desconforto e hábitat estranho, ainda era uma prerrogativa. Passar férias deve pelo menos fazer com que você se sinta num local diferente. De que adiantaria a viagem se com ela predominasse a monotonia? E a diferença estava nas taças de sorvete, com cinco bolas, da sorveteria da esquina. Nos clubes todo fim de semana e na praça de frente ao prédio, onde tinha amigos e liberdade.
No fim das contas, acabava sendo uma experiência agradável. Meu pai deveria ser a presença mais importante, mas não o encontro nas minhas lembranças. Nem se me esforçar.

Vou lembrar o tempo de onde eu via o mundo azul.




“A lua inteira agora é um manto negro... Quero um machado pra quebrar o gelo, quero acordar do sonho agora mesmo, quero uma chance de tentar viver sem dor... O lado escuro é sempre igual, no espaço a solidão é tão normal. Desculpe estranho eu voltei mais puro do céu...”.
                                                                    (Nenhum de Nós)

terça-feira, 27 de novembro de 2012


Estafa mental é o que anda me consumindo. Um conflito interno que varia entre pensar ou seguir alternativas impostas sem relutar. De qualquer forma, muda pouca coisa. Estou exausta, agoniada e triste. Sei que nada posso sozinha e as pessoas não se importam. Nem têm porque se importar. De que adianta tantos pensamentos utópicos e românticos, se mal posso andar na frente de quem me atropela?
Por esses dias queria parar de pensar. Poder tirar da mente com uma varinha de condão, tudo que me faz refletir e me sentir cada vez menor diante da impossibilidade de concretizar. Queria relaxar! Sobreviver como tantos. Não problematizar meus atos e os alheios para tentar consertar o que já está espatifado. Meus cacos mentais estão por aí, a me assombrar. Talvez o paraíso seja só meu e por ser só não posso dá-lo a ninguém, nem a mim mesma.
Um tanto quanto a loucura que esvazia as coerências. Um tanto quanto sentimentos que pairam no ar e invadem meus pulmões. Um tanto quanto dolorido, como os espinhos da flor que perfuram dedos e a protegem das minhas mãos trêmulas e do meu nariz ansioso por perfumes puros. Minha sensibilidade é ausente de beleza. Sem chão, sem medidas, me sinto doente, arredia e um tanto quanto vegetando em meio a uma sociedade que não me pertence.
Diferente de tudo, diferente de todos, com ânsias exatas, presentes e inocentes. Será que algum dia poderei me adaptar antes que enlouqueça? Antes de ser mais uma vez banida? Capacidade intelectual talvez seja um tema para estas linhas que há sete páginas já se iniciaram, sem propósito aparente e sem ponto de partida. Tão mal pensadas! Dificilmente chegarão a excelência ou alcançarão algum objetivo.
Ainda acredito em felicidade e não consigo vê-la separada do meu conceito de paz. Mas existe em mim uma melancolia derramada a uma agonia crescente, presente nos olhos. Estou inquieta, pensativa e sofrendo.
Distante do ambiente em que vivo por sonhar com algo diferente. O que realmente está valendo à pena? São tantos conflitos com que bato de frente. Me sinto perdida em meio aos meus sonhos e ao máximo que consigo concretizar. Quanto mais penso e me pergunto, inúmeras respostas surgem como águias observando à presa. É um ciclo sem fim e que me mantém como rato naquelas rodinhas das suas gaiolas. Eternamente rodando atrás de uma perfeição que nunca vou alcançar, por nunca me contentar.
Se não às grades em círculos, talvez as garras e o bico fino atingindo com precisão aquele ponto fatal! A morte... Da alma, da calma e de todo e qualquer suspiro de descontentamento.
Eu, uma pensadora frenética, descontrolada, bipolar, sempre em busca da crítica, da melhora, da solução.
O que vejo é: meus sonhos me tirando o sono. Rolando pela cama em contorções desnecessárias, cruciantes. Insônias crônicas, amanhecendo com olhos inchados e maquiados de olheiras.
Não pretendo aqui travar batalhas intermináveis entre o certo e o errado. Isso é tão subjetivo. Muito menos chegar a qualquer lógica sensata. Tento fazer com que eu mesma entenda o que se passa nessa minha mente atormentada.
Há tanto tempo não me permito sonhar. Vivo refletindo, tentando achar alternativas. Não reconheço o meu sorriso no espelho.
Tantas vezes prefiro ficar absorta nos meus devaneios, ouvindo músicas depressivas, que usem palavras complexas e toquem minha alma. Socializar não faz parte do meu vocabulário. Nada me completa ou agrada. Perdi meu encaixe. Tenho crises de choro e identidade. Sou a pessoa que queria ser quando criança e essa pessoa é triste, fria e racional. No fundo só queria ser feliz, livre e em paz.
Meus princípios me corroem e as pessoas não se adaptam a mim. E quem disse que elas têm que se adaptar? É, "carosbaratos" leitores, desculpe pela má interpretação dessas (insisto) mal traçadas linhas. Desculpe a incoerência das frases, cada vírgula mal posta e os erros de português gramatical perfeito. E desculpe por não conseguir compreender a lógica desse mundo torto, insano e desumano.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012


Queria desabafar com alguém em quem confie cegamente. Mas quem? Essa tela e teclados, que me entendem da forma mais profunda e dilatada que alguém pode entender outro alguém, seria a saída? Sei que pedir um ser de carne e osso seria demais! Tão cedo ela não vai voltar. Não terei abraços e sinceridade doída. Nem tão cedo alguém conseguirá me penetrar como Luísa, sem usar as mãos ou qualquer artifício sexual.
As máquinas têm a vantagem de não dar conselhos inúteis e não olhar com ar de reprovação. Ouvem caladas. Não interrompem, nem cortam o raciocínio ao meio. Deixam perpetuar momentos “intelectualóides”. Posso usá-las quando quiser, desligar quando bem entender e nem preciso retribuir o favor. O egoísmo pode permanecer sem conflitos entre as normas da boa educação e a minha pretensão em me preocupar apenas com meu umbigo.
Diante da máquina me sinto à vontade e é onde quero ficar. Nessa terapia, me descobrir e me estrepar. Relaxar e ao mesmo tempo notar cada músculo endurecer, seja de tesão, seja de ódio. Quero que as gargalhadas ressoem das profundezas do inferno. (Isso é plágio). E por que não chorar até sentir a boca seca e o organismo desidratado?
Quero me encontrar, para saber por qual caminho será mais saboroso me perder. Me excitar com cada frisson revivido e vomitar com as náuseas que embrulharão meu estômago. Sei que vou tornar a me apaixonar por cada um que entupiu meu coração, para enfim, expulsá-los de dentro de mim.

E se eu falar sobre o que não entendem?



“Desconheço quem tenha razão... Quem pode me dizer como exatamente todo mundo deveria ser?... Poucos escutam, muitos se ofendem. A verdade é que não há verdade”.
(Matanza)

sábado, 24 de novembro de 2012


Na escrita maquiamos as palavras para que soem mais bonitas ou tristes e consideravelmente difíceis de serem compreendidas. Antigamente (e no meu caso enquanto ainda era criança), se rimava amor com dor ou flor sem receios. Nunca fui fã das rimas e não as utilizo em demasia - quase nunca. No entanto, invejo alguns poemas que parecem um quebra cabeças.
 As palavras são dispostas sutilmente, como peças encaixadas com perfeição e que não fariam sentido se não estivessem exatamente ali, no lugar onde foram criadas para estar e dar coerência ao que quer que se proponham.
Não consigo me imaginar peneirando nos dicionários, junções de letras que soarão melhor. Ou não produzirão uma cacofonia qualquer. Nem mesmo depois dos conselhos do Nilo:
- Amplie seu vocabulário. Você não deve desprezar os dicionários. Eles são espetaculares e uma fonte de conceitos sem igual. Senão, você corre o risco de ficar capenga e se embrutecer por não saber qual palavra utilizar.
Escrevo o que vem a mente e o que a mão costuma sentir. E não me encaixo no padrão de escritora que pretendo ser. Permito que as emoções controlem a coerência da arte. E não entendo uma arte que não venha essencialmente da sensibilidade. (Ressaltando que parte de mim concorda com ele e a outra parte tem vontade de mandá-lo ir à merda).
Uso a escrita como terapia, já que não tenho grana para arcar com uma. Quem preferir pode sair por aí dizendo que não tenho criatividade para inventar uma história qualquer. Prefiro falar da minha vida. Mas, você ainda se lembra que o diretor do filme não sou eu? Nada mais é do que uma comiseração quando meu lado “coitadinha” se apodera.
A atriz (que fica do meu outro lado) já não se importa com a forma que essas linhas serão absorvidas por quem chegar eventualmente a ler. Ela jamais recorreria a um terapeuta, embora esteja ouvindo de bocas alheias que deveria curar seu provável transtorno bipolar não diagnosticado. Ou seria uma dupla personalidade? Esse sim é um diagnóstico. Mas deixe que zombem e chamem de bipolaridade esse mal que me acompanha desde que me entendo por gente. Aprendi a gostar e não permito que alguém entre em minha mente e arranque ele de mim.
Para onde iria essa intensidade que move cada passo que dou e alimenta a minha personalidade? E os olhares atônitos diante das minhas reações enlouquecidas, imprevisíveis, escarrando hipocrisias que ostentam como verdades absolutas? Quem me tornaria se deixasse de sentir absurdamente? Um moribundo, perambulando atrás de qualquer resquício de insanidade.
            Definitivamente não quero isso para mim. Não vou procurar alguém que me cobraria para valorizar suas percepções inúteis. As drogas, o álcool e o cigarro contribuem por si só com esses meus deslizes emocionais. Escrever é a minha válvula de escape. Meu processo lento de desintoxicação dos vícios e venenos que percorrem minhas veias. No final, quero deixar de ser infantil e exagerada.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012


Existe algo em meio a tudo que não consigo capturar e compreender. É sobre mim, mas parece um filme do qual sou apenas telespectadora. Ás vezes aplaudo, me emociono. Em outras ocasiões abro um sorriso. Tantas vezes franzo a testa em sinal de incógnita. Em nenhum caso consigo interferir no andamento das cenas ou no conteúdo dos textos.
Acompanho um script que não escrevi e interpreto um personagem que não incorporei. Não há espaços para improvisos ou palpites. O diretor é um carrasco, que direciona os episódios e as atitudes perante cada um deles. De alguns resultados me orgulho, de outros sinto uma vergonha imensa. Mas nesse roteiro não há tempo para ensaios ou refilmagens. Do que jeito que sair, vai para o ar.
Resta aguentar o resultado das críticas, tantas vezes destrutivas e sem fundamento teórico.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012


Nas minhas inconstâncias, penso em morrer. Tenho medo da palavra em si e ainda há muito a se viver. Prefiro pagar para ver (quantas rimas estúpidas). Sou curiosa demais para perder essa oportunidade. E covarde. Nunca consegui consumar o ato, nem mesmo nos piores momentos de crise.
Á demência me rondava, embora não tenha certeza sobre essa colocação no passado. Quando entrava em desordens existenciais, eu me batia. Arranhava os braços e as pernas, com unhas mal pintadas e afiadas. Mordia a boca e as bochechas até sangrarem. Jogava a cabeça contra a parede, chacoalhando o cérebro e as ideias. Beliscava a pele até o local ficar roxo, sem jamais alcançar o objetivo de arrancar um pedacinho sequer.
De arremate, puxava os cabelos até o couro cabeludo latejar e não suportar as dores. Hoje os fios caem, sem qualquer tipo de ajuda.
Essas atitudes nunca foram ferramentas para chamar atenção. Ao contrário! Meu orgulho não permitia o uso de estratagemas que atraísse pena. A indulgência alheia não satisfazia meus caprichos. Fazia por não domar os impulsos agressivos e para me concentrar em outra dor que não fosse aquela dentro do peito.
Estive próxima de cortar os pulsos, mas a faca escorregou. Sequer chegou perto de encostar a veia, enquanto eu chorava, infeliz e covardemente. Tomei excesso de remédios, mas nunca o bastante para me prejudicar como prometido. Sequer desmaiei. Sequer deixei essa pretensão transparecer. Não queria expor minha fragilidade. Minha e só minha continuaria sendo, para ser usada em doses homeopáticas, quando me fosse necessária.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


"Contradições de uma história mal escrita" poderia ter sido um título interessante dessa obra de arte. Condensa minha incoerência mental, com a certeza de não ter alcançado excelência escrita para me aventurar por essas linhas. Realça, ainda que subliminarmente, a vocação de ouvir músicas reflexivas e fazer palavras cruzadas como passatempo viciante. O que as palavras cruzadas têm a ver com isso? Não sei, nem subliminarmente falando.
Desde os 14 anos escrevo livros. Antes disso já viajava em rimas. Ápice do romantismo que habitava meu peito. Comecei com rabiscos de um caderno e um amor impossível pelo Fábio. (Impossibilidades me fisgam de uma maneira impressionante). Escrevia a lápis, já sabendo que deveria revisar o texto.
Ganhei uma máquina de escrever da minha mãe, mas não usava. Não tinha segurança nas palavras ou sentimentos que traduzia em junções de letras. Hoje em dia a segurança ainda não é parceira, mas existe no meio da sala um exemplar antigo de PC. Apertar o backspace ou o delete caso ache necessário chega a ser excitante. Tecnologias que odeio a favor da facilidade.
A motivação em escrever sobre o Fábio acabou nas primeiras 20 páginas, junto com o "amor". Ínfimo, rasgado e queimado numa fogueirinha particular, dentro de um vaso de barro que havia na estante. De lembrança, apenas as marcas escuras no vaso, uma comida de rabo de mamãe pelo estrago ao seu bem material e a tristeza de ter posto fim ao meu primeiro grande futuro best-seller.
O fim do amor foi um alívio.
Aos 17 anos iniciei outro livro-futuro-grande-best-seller. Inacabado. Outra autobiografia surreal, moldada nas entrelinhas da minha imaginação fértil. "Nada melhor que um rock" era o título. Hoje sei que era piegas e brega o que escrevi, mas de acordo com Fernando Pessoa ou Álvares de Campos, tanto faz, o amor tem suas ridicularidades.
Quem nunca escreveu cartas de amor ridículas? (Vamos, não perca a oportunidade de atirar a primeira pedra). Dei minha alma ao Sandro, como quem a vende a um Diabo de olhar penetrante, boca vermelho-sangue, frases serenas e trejeitos elegantemente hostis. Sem falar no pau ereto, sempre a minha espera. Pronto para o ataque.
Com hostilidade apertei o delete. Esvaziei a lixeira e lá se foram o rock, as palavras, a “breguice”, os sentimentos despejados e a precariedade da história e do amor que sentíamos um pelo outro. Fiz com o livro e com ele. Delete e pronto. Sem choro, sofrimento ou qualquer tentativa de recuperação. Delete, uma dose de Juliana e adeus Sandro, junto com todo lixo que essa história tinha juntado. Remexer essas quinquilharias é tarefa para mais tarde, mais linhas e mais cigarros e vodkas para aguentar.
Num canto escuro, existia o back-up. Alternativa de recuperação? Não tenho certeza. Talvez possa vir a ser outro início, de uma nova descoberta, uma nova história.

sábado, 17 de novembro de 2012


Hoje, 23 de abril. Nada para fazer além de voltar ao trabalho, onde não há tarefas estimulantes. Tudo mecanicamente programado para que não saia diferente do que deve ser. Cada centímetro exato e milimetricamente coordenado. Telefonemas. Clientes. Programas de computador repleto de dados. Dinheiro alheio. Sorrisos forçados, falsos. Vendas. Metas. E um salário no fim do mês que não me motiva, tão pouco me faz feliz.
Vendedora não foi bem o que sonhei, mas é para loja que devo ir quando tocar o relógio do celular. Já estão se acabando às duas horas de almoço a que tenho direito.
Ainda preciso me sujeitar aos empregos monótonos que aparecem no meio do caminho. Aquele mesmo caminho onde, de acordo com Drummond havia uma pedra. Só não quero engrossar as estatísticas que contabilizam jornalistas frustrados, fumantes e bêbados, que fumam, bebem e se frustram ao olhar para trás e ver que, de acordo com Cazuza, aquele garoto que ia mudar o mundo acabou por se adaptar. Hoje assiste a tudo em cima de um muro.
E eu sou estudante. Há espaço para o álcool, a nicotina e as frustrações de praxe.
Acordo e vivo sem projetos que me dêem motivos para acordar. As sete da matina essa merda desperta e me assusta. Seis dias da semana. E assim, meio sonâmbula e assustada, como não estou fazendo nada (pelo visto nem você também, como diria Jair Rodrigues) resolvi continuar este livro.
Enquanto escrevo ou penso, ouço minhas músicas melodramáticas (eu sei que já deu para perceber). Sonho com um futuro promissor. Veja que lindos pensamentos matinais me deslumbram: estabilidade emocional e financeira e reconhecimento por um talento que insisto em acreditar que tenho - o de escrever.
Mas "projeto de vida" é uma expressão que piscianos - aqueles seres nascidos sob o signo de peixes: chorosos, sensíveis, inconstantes, como eu - desconhecem o significado. Até tento colocar algo em prática, mas prática é uma palavra que ainda não absorvi o significado. E o destino se junta com a preguiça da instabilidade emocional constante e prega peças. Muda as idéias de lugar.
 Obviamente conheço o Nilo, meu recente ídolo intelectual e amor heterossexual platônico.
Ele é um desses tipos chorosos, sensíveis e inconstantes. Louco. Uma espécie de Homem rara no mercado, já com sua dona. Penso que ele conseguiu mesclar a dimensão em que vivemos, (nós, os piscianos) com o mundo real em que a maioria das pessoas vive (o resto do zodíaco, exceto os cancerianos). Já consegue até fingir normalidade. Claro que não especificamente dentro das contestáveis regras da ABNT pessoal socialmente aceitável. Mas na melhor das hipóteses, pelo menos cortou o cabelo, faz a barba (mal feita) com certa freqüência, parou de se drogar ilicitamente e usa um traje esporte fino antiquado que, sem sombra de dúvida, herdou do avô.
Espero que os genes masculinos não tenham uma influência direta sobre capacidade de adaptação.
Quem sabe daqui uns anos eu também aterrisse. Reprima a mente que flutua por espaços irreais e coloque o pé no chão. Talvez trabalhe com a rotina de um jornal e faça matérias inúteis sobre acidentes e assaltos à mão armada. Infeliz, melancólica e mantendo a bebida e o cigarro como companheiros. Alguma droga mais forte, eventualmente. Pagando bem, que mal tem vender a dignidade e a ética.
Principalmente se a moeda for ascensão profissional. Futuro, não cabe a mim premeditá-lo.

Apresentação


Um vocabulário inteiro de ilusão.



“Tudo bem quando termina bem e os seus olhos não estão rasos d'água... Tudo que viceja, também pode agonizar e perder seu brilho em poucas semanas... Tudo que morre fica vivo na lembrança, como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça. Mas antes que eu me esqueça, antes que tudo se acabe, eu preciso dizer a verdade.”
                             (Biquíni Cavadão)