Hoje, 23 de abril. Nada para fazer além de voltar ao
trabalho, onde não há tarefas estimulantes. Tudo mecanicamente programado para
que não saia diferente do que deve ser. Cada centímetro exato e
milimetricamente coordenado. Telefonemas. Clientes. Programas de computador
repleto de dados. Dinheiro alheio. Sorrisos forçados, falsos. Vendas. Metas. E
um salário no fim do mês que não me motiva, tão pouco me faz feliz.
Vendedora não foi bem o que sonhei, mas é para loja que devo
ir quando tocar o relógio do celular. Já estão se acabando às duas horas de
almoço a que tenho direito.
Ainda preciso me sujeitar aos empregos monótonos que
aparecem no meio do caminho. Aquele mesmo caminho onde, de acordo com Drummond
havia uma pedra. Só não quero engrossar as estatísticas que contabilizam jornalistas
frustrados, fumantes e bêbados, que fumam, bebem e se frustram ao olhar para
trás e ver que, de acordo com Cazuza, aquele garoto que ia mudar o mundo acabou
por se adaptar. Hoje assiste a tudo em cima de um muro.
E eu sou estudante. Há espaço para o álcool, a nicotina e
as frustrações de praxe.
Acordo e vivo sem projetos que me dêem motivos para
acordar. As sete da matina essa merda desperta e me assusta. Seis dias da
semana. E assim, meio sonâmbula e assustada, como não estou fazendo nada (pelo
visto nem você também, como diria Jair Rodrigues) resolvi continuar este livro.
Enquanto escrevo ou penso, ouço minhas músicas
melodramáticas (eu sei que já deu para perceber). Sonho com um futuro
promissor. Veja que lindos pensamentos matinais me deslumbram: estabilidade emocional
e financeira e reconhecimento por um talento que insisto em acreditar que tenho
- o de escrever.
Mas "projeto de vida" é uma expressão que
piscianos - aqueles seres nascidos sob o signo de peixes: chorosos, sensíveis,
inconstantes, como eu - desconhecem o significado. Até tento colocar algo em
prática, mas prática é uma palavra que ainda não absorvi o significado. E o
destino se junta com a preguiça da instabilidade emocional constante e prega
peças. Muda as idéias de lugar.
Obviamente conheço
o Nilo, meu recente ídolo intelectual e amor heterossexual platônico.
Ele é um desses tipos chorosos, sensíveis e inconstantes.
Louco. Uma espécie de Homem rara no mercado, já com sua dona. Penso que ele conseguiu
mesclar a dimensão em que vivemos, (nós, os piscianos) com o mundo real em que
a maioria das pessoas vive (o resto do zodíaco, exceto os cancerianos). Já
consegue até fingir normalidade. Claro que não especificamente dentro das contestáveis
regras da ABNT pessoal socialmente aceitável. Mas na melhor das hipóteses, pelo
menos cortou o cabelo, faz a barba (mal feita) com certa freqüência, parou de
se drogar ilicitamente e usa um traje esporte fino antiquado que, sem sombra de
dúvida, herdou do avô.
Espero que os genes masculinos não tenham uma influência
direta sobre capacidade de adaptação.
Quem sabe daqui uns anos eu também aterrisse. Reprima a
mente que flutua por espaços irreais e coloque o pé no chão. Talvez trabalhe
com a rotina de um jornal e faça matérias inúteis sobre acidentes e assaltos à
mão armada. Infeliz, melancólica e mantendo a bebida e o cigarro como
companheiros. Alguma droga mais forte, eventualmente. Pagando bem, que mal tem
vender a dignidade e a ética.
Principalmente se a moeda for ascensão profissional.
Futuro, não cabe a mim premeditá-lo.
CONTINUA MINHA LINDA, MAS CONTINUA NUA, LINDA, NUA, CONTINUA: SE JOGA NO TEXTO INTEIRA...
ResponderExcluirvou me jogar... vou postar mais agora... =D
ResponderExcluirQue isso... acho q já estava no seu mundo nessa época e pra te ser sincera... Vc aterrizou gatona... Hj vc já está muito afrente desse tempo que estava quando escreveu isso...
ResponderExcluirParabéns...
aterrizei? que feliz... eu gosto de ler textos antigos por isso, pra saber que tanto evolui
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