sábado, 17 de novembro de 2012


Hoje, 23 de abril. Nada para fazer além de voltar ao trabalho, onde não há tarefas estimulantes. Tudo mecanicamente programado para que não saia diferente do que deve ser. Cada centímetro exato e milimetricamente coordenado. Telefonemas. Clientes. Programas de computador repleto de dados. Dinheiro alheio. Sorrisos forçados, falsos. Vendas. Metas. E um salário no fim do mês que não me motiva, tão pouco me faz feliz.
Vendedora não foi bem o que sonhei, mas é para loja que devo ir quando tocar o relógio do celular. Já estão se acabando às duas horas de almoço a que tenho direito.
Ainda preciso me sujeitar aos empregos monótonos que aparecem no meio do caminho. Aquele mesmo caminho onde, de acordo com Drummond havia uma pedra. Só não quero engrossar as estatísticas que contabilizam jornalistas frustrados, fumantes e bêbados, que fumam, bebem e se frustram ao olhar para trás e ver que, de acordo com Cazuza, aquele garoto que ia mudar o mundo acabou por se adaptar. Hoje assiste a tudo em cima de um muro.
E eu sou estudante. Há espaço para o álcool, a nicotina e as frustrações de praxe.
Acordo e vivo sem projetos que me dêem motivos para acordar. As sete da matina essa merda desperta e me assusta. Seis dias da semana. E assim, meio sonâmbula e assustada, como não estou fazendo nada (pelo visto nem você também, como diria Jair Rodrigues) resolvi continuar este livro.
Enquanto escrevo ou penso, ouço minhas músicas melodramáticas (eu sei que já deu para perceber). Sonho com um futuro promissor. Veja que lindos pensamentos matinais me deslumbram: estabilidade emocional e financeira e reconhecimento por um talento que insisto em acreditar que tenho - o de escrever.
Mas "projeto de vida" é uma expressão que piscianos - aqueles seres nascidos sob o signo de peixes: chorosos, sensíveis, inconstantes, como eu - desconhecem o significado. Até tento colocar algo em prática, mas prática é uma palavra que ainda não absorvi o significado. E o destino se junta com a preguiça da instabilidade emocional constante e prega peças. Muda as idéias de lugar.
 Obviamente conheço o Nilo, meu recente ídolo intelectual e amor heterossexual platônico.
Ele é um desses tipos chorosos, sensíveis e inconstantes. Louco. Uma espécie de Homem rara no mercado, já com sua dona. Penso que ele conseguiu mesclar a dimensão em que vivemos, (nós, os piscianos) com o mundo real em que a maioria das pessoas vive (o resto do zodíaco, exceto os cancerianos). Já consegue até fingir normalidade. Claro que não especificamente dentro das contestáveis regras da ABNT pessoal socialmente aceitável. Mas na melhor das hipóteses, pelo menos cortou o cabelo, faz a barba (mal feita) com certa freqüência, parou de se drogar ilicitamente e usa um traje esporte fino antiquado que, sem sombra de dúvida, herdou do avô.
Espero que os genes masculinos não tenham uma influência direta sobre capacidade de adaptação.
Quem sabe daqui uns anos eu também aterrisse. Reprima a mente que flutua por espaços irreais e coloque o pé no chão. Talvez trabalhe com a rotina de um jornal e faça matérias inúteis sobre acidentes e assaltos à mão armada. Infeliz, melancólica e mantendo a bebida e o cigarro como companheiros. Alguma droga mais forte, eventualmente. Pagando bem, que mal tem vender a dignidade e a ética.
Principalmente se a moeda for ascensão profissional. Futuro, não cabe a mim premeditá-lo.

4 comentários:

  1. CONTINUA MINHA LINDA, MAS CONTINUA NUA, LINDA, NUA, CONTINUA: SE JOGA NO TEXTO INTEIRA...

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  2. vou me jogar... vou postar mais agora... =D

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  3. Que isso... acho q já estava no seu mundo nessa época e pra te ser sincera... Vc aterrizou gatona... Hj vc já está muito afrente desse tempo que estava quando escreveu isso...
    Parabéns...

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  4. aterrizei? que feliz... eu gosto de ler textos antigos por isso, pra saber que tanto evolui

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