Sozinha nesse quarto. Minha voz ricocheteando nas paredes
morbidamente brancas e nos travesseiros de fronha cor vermelho intenso,
estampado com flores nada discretas em tom de violeta. Um leve cheiro de suor
do meu pai respingado a noite, mesclado com a fragrância do amaciante de
roupas, me remete as férias passadas no apartamento de vovó.
Nunca me senti à vontade por lá, por mais que seus
esforços fossem constantes.
Típica estirpe classe média (mediano, medíocre), com
almoços em restaurantes e as críticas de meu avô porque eu não sabia comer como
manda a etiqueta.
- Pega o guardanapo para
limpar a boca menina.
- O garfo é na mão
direita. (Ou será que
é na esquerda?)
- Não Amanda, eu já
disse para não pegar com a mão. Isso é nojento.
Lá me sentia como se estivesse dentro de uma roupa
apertada, prendendo minha respiração e inibindo meus gestos excessivos.
Tudo muito limpo, bem passado, organizado. Um grande e
verdadeiro pé no saco de qualquer criança. O único momento onde podia relaxar
era a mamada. Quando tinha oito anos, ainda existia por lá uma mamadeira guardada
para mim, que vó Branca preparava com leite morno e achocolatado. De vez em
quando me dava à orelha para eu alisar. Era mania para dormir. Mamar e alisar.
Na falta de calor humano, alisava a minha mesmo, a da
esquerda. A mão direita estava ocupada empunhando meu símbolo máximo de puerilidade.
De qualquer maneira era preciso uma orelha, senão o sono não vinha.
Apesar do desconforto e hábitat estranho, ainda era uma prerrogativa.
Passar férias deve pelo menos fazer com que você se sinta num local diferente. De
que adiantaria a viagem se com ela predominasse a monotonia? E a diferença
estava nas taças de sorvete, com cinco bolas, da sorveteria da esquina. Nos
clubes todo fim de semana e na praça de frente ao prédio, onde tinha amigos e liberdade.
No fim das contas, acabava sendo uma experiência
agradável. Meu pai deveria ser a presença mais importante, mas não o encontro
nas minhas lembranças. Nem se me esforçar.
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