Na escrita maquiamos as palavras para que soem mais
bonitas ou tristes e consideravelmente difíceis de serem compreendidas.
Antigamente (e no meu caso enquanto ainda era criança), se rimava amor com dor
ou flor sem receios. Nunca fui fã das rimas e não as utilizo em demasia - quase
nunca. No entanto, invejo alguns poemas que parecem um quebra cabeças.
As palavras são
dispostas sutilmente, como peças encaixadas com perfeição e que não fariam
sentido se não estivessem exatamente ali, no lugar onde foram criadas para
estar e dar coerência ao que quer que se proponham.
Não consigo me imaginar peneirando nos dicionários,
junções de letras que soarão melhor. Ou não produzirão uma cacofonia qualquer. Nem
mesmo depois dos conselhos do Nilo:
- Amplie seu vocabulário.
Você não deve desprezar os dicionários. Eles são espetaculares e uma fonte de
conceitos sem igual. Senão, você corre o risco de ficar capenga e se embrutecer
por não saber qual palavra utilizar.
Escrevo o que vem a mente e o que a mão costuma sentir. E
não me encaixo no padrão de escritora que pretendo ser. Permito que as emoções
controlem a coerência da arte. E não entendo uma arte que não venha essencialmente
da sensibilidade. (Ressaltando que parte de mim concorda com ele e a outra
parte tem vontade de mandá-lo ir à merda).
Uso a escrita como terapia, já que não tenho grana para
arcar com uma. Quem preferir pode sair por aí dizendo que não tenho criatividade
para inventar uma história qualquer. Prefiro falar da minha vida. Mas, você
ainda se lembra que o diretor do filme não sou eu? Nada mais é do que uma
comiseração quando meu lado “coitadinha” se apodera.
A atriz (que fica do meu outro lado) já não se importa
com a forma que essas linhas serão absorvidas por quem chegar eventualmente a
ler. Ela jamais recorreria a um terapeuta, embora esteja ouvindo de bocas
alheias que deveria curar seu provável transtorno bipolar não diagnosticado. Ou
seria uma dupla personalidade? Esse sim é um diagnóstico. Mas deixe que zombem
e chamem de bipolaridade esse mal que me acompanha desde que me entendo por
gente. Aprendi a gostar e não permito que alguém entre em minha mente e
arranque ele de mim.
Para onde iria essa intensidade que move cada passo que
dou e alimenta a minha personalidade? E os olhares atônitos diante das minhas
reações enlouquecidas, imprevisíveis, escarrando hipocrisias que ostentam como
verdades absolutas? Quem me tornaria se deixasse de sentir absurdamente? Um
moribundo, perambulando atrás de qualquer resquício de insanidade.
Definitivamente não quero isso para mim. Não vou
procurar alguém que me cobraria para valorizar suas percepções inúteis. As
drogas, o álcool e o cigarro contribuem por si só com esses meus deslizes
emocionais. Escrever é a minha válvula de escape. Meu processo lento de
desintoxicação dos vícios e venenos que percorrem minhas veias. No final, quero
deixar de ser infantil e exagerada.
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