"Contradições de uma história mal
escrita" poderia ter sido um título
interessante dessa obra de arte. Condensa minha incoerência mental, com a
certeza de não ter alcançado excelência escrita para me aventurar por essas
linhas. Realça, ainda que subliminarmente, a vocação de ouvir músicas
reflexivas e fazer palavras cruzadas como passatempo viciante. O que as
palavras cruzadas têm a ver com isso? Não sei, nem subliminarmente falando.
Desde os 14 anos escrevo livros. Antes disso já viajava em
rimas. Ápice do romantismo que habitava meu peito. Comecei com rabiscos de um
caderno e um amor impossível pelo Fábio. (Impossibilidades me fisgam de uma
maneira impressionante). Escrevia a lápis, já sabendo que deveria revisar o
texto.
Ganhei uma máquina de escrever da minha mãe, mas não usava.
Não tinha segurança nas palavras ou sentimentos que traduzia em junções de
letras. Hoje em dia a segurança ainda não é parceira, mas existe no meio da
sala um exemplar antigo de PC. Apertar o backspace ou o delete caso ache
necessário chega a ser excitante. Tecnologias que odeio a favor da facilidade.
A motivação em escrever sobre o Fábio acabou nas
primeiras 20 páginas, junto com o "amor". Ínfimo, rasgado e queimado
numa fogueirinha particular, dentro de um vaso de barro que havia na estante.
De lembrança, apenas as marcas escuras no vaso, uma comida de rabo de mamãe
pelo estrago ao seu bem material e a tristeza de ter posto fim ao meu primeiro
grande futuro best-seller.
O fim do amor foi um alívio.
Aos 17 anos iniciei outro livro-futuro-grande-best-seller.
Inacabado. Outra autobiografia surreal, moldada nas entrelinhas da minha
imaginação fértil. "Nada melhor que um rock" era o título. Hoje sei
que era piegas e brega o que escrevi, mas de acordo com Fernando Pessoa ou
Álvares de Campos, tanto faz, o amor tem suas ridicularidades.
Quem nunca escreveu cartas de amor ridículas? (Vamos, não
perca a oportunidade de atirar a primeira pedra). Dei minha alma ao Sandro, como
quem a vende a um Diabo de olhar penetrante, boca vermelho-sangue, frases serenas
e trejeitos elegantemente hostis. Sem falar no pau ereto, sempre a minha
espera. Pronto para o ataque.
Com hostilidade apertei o delete. Esvaziei a lixeira e lá
se foram o rock, as palavras, a “breguice”, os sentimentos despejados e a
precariedade da história e do amor que sentíamos um pelo outro. Fiz com o livro
e com ele. Delete e pronto. Sem choro, sofrimento ou qualquer tentativa de
recuperação. Delete, uma dose de Juliana e adeus Sandro, junto com todo lixo
que essa história tinha juntado. Remexer essas quinquilharias é tarefa para
mais tarde, mais linhas e mais cigarros e vodkas para aguentar.
Num canto escuro, existia o back-up. Alternativa de
recuperação? Não tenho certeza. Talvez possa vir a ser outro início, de uma
nova descoberta, uma nova história.
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